sexta-feira

a utopia de piglia

A primeira definição para “utopia” do Aurélio Século XXI é “país imaginário, criação de Thomas Morus (1480-1535), escritor inglês, onde um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz”.
Depois aparecem “descrição ou representação de qualquer lugar ou situação ideais onde vigorem normas e/ou instituições políticas altamente aperfeiçoadas” e “projeto irrealizável; quimera; fantasia”.
Morus “formou o vocábulo com os elementos gregos óu ‘não’ e tópos ‘lugar’”, diz Antônio Geraldo da Cunha no Dicionário Etimológico.
Utopia significa então, primeiramente, não-lugar. Um “não-lugar” que é imaginado e pensado em oposição ao “lugar” existente, dominante e imposto. Lugar é “espaço ocupado”, de acordo com a primeira definição do Aurélio. E quem o ocupa é a realidade. O lugar existente é o lugar do real, onde utopia será sempre a quimera, o projeto impossível, a fantasia. O espaço criado em oposição ao real, como um duplo anti-idiotia, é um espaço lacunar, em aberto, que só pode existir na sua construção, ou será apenas fantasia, duplicação vazia da idiotia aparente.

[Um “não-lugar” que é bem diferente do conceito de “não-lugar” concebido de Marc Augé. Ainda assim, parece possível pensar em aproximá-los no sentido de que são, guardadas as proporções, espaços “irreais”, espaços que não são (e por isso, podem vir a ser).]