quinta-feira

mapa del viaje I

Um e-mail aos editores com el mapa del viaje:

Fazer uma triangulação entre três personagens e sua relação com a Patagônia, com a Argentina. Os personagens: Bruce Chatwin, Hugo Pratt e Corto Maltese. Todos falecidos (vale para Corto também?).






Chatwin escreveu "In Patagonia", primeiro livro, em 1976. Sempre obcecado pelo movimento nômade. Era porteiro da Sotheby's, tinha um olho (os dois, na verdade) bom pra avaliação, virou o especialista da casa para arte moderna. Depois de um tempo, desenvolveu problema nos olhos, o oftalmologista lhe disse que era incrível e, por mais metafórico que pudesse parecer, o problema acontecia em função da concentração de suas (de Chatwin) retinas em detalhes, hipertrofia?
A Casa oferece uma viagem, o médico disse espaços abertos, ele ouve do gerente: que lugar da Europa você gostaria de descansar os seus olhos em; ele responde: Sudão. O período de viagem ele publica como notas nas “Songlines”. Fica seis meses viajando pela África, não volta para a Sotheby's, começa antropologia em Edimburgo, desiste, escreve para o Daily News resenhas e pequenos artigos sobre nomadismo.
Desde criança Chatwin desenvolveu uma relação fundamental com a Patagônia — o avô tinha uma pele de milodonte, um mamute esbelto da Terra do Fogo, e a pele era, e foi sempre, uma espécie de símbolo da aventura para ele. Um dia envia da Argentina um telegrama ao editor do jornal: gone to patagonia pt. Na mochila, “Viagem à Armênia”, de Mandelstahn.
Uma das linhas condutoras da viagem é checar a trilha do Wild Bunch, de Etta Place, Butch Cassidy e Sundance Kid, que chegaram a ser estanceiros na Patagônia (contrariando a lenda, equivocada, da morte após o assalto na Bolívia, como no filme).

Pratt era italiano. Foi com os pais para a Etiópia aos 15 anos, serviu o exército lá, virou marinheiro e foi parar na Argentina. Morou 15 anos em Buenos Aires e lá começou a fazer quadrinhos sob influência do trabalho de Milton Cannif.
Evolui, ainda bem, e começa a fazer uma sofisticação revolucionária (de forma diferente que Will Eisner) da relação desenho P&B com um texto muito mais literário que o usual, um não vive mais sem o outro, melhor: um não quer viver mais sem o outro.
Cria então, meio sem querer, aquele que será seu alter-ego: Corto Maltese, o marinheiro inoconoclasta, o cavalheiro da fortuna da virada do século xix para o xx, provavelmente o personagem dos quadrinhos que melhor representa o viajante aventureiro romântico. Pratt e Corto funcionam como reflexo um do outro, como as ruínas circulares de Borges.

Corto vai à Argentina em 1924, no encalço do assassinato de Louise Brooks, uma das famosas polacas (como as prostitutas européias traficadas para o sul, a maioria do leste europeu, eram chamadas) da época, sua amiga de Veneza. Em Buenos Aires, sempre ao lado de Fosforito (malandro argentino, milongueiro que poderia ser personagem de Roberto Arlt) tem um encontro com Butch Cassidy, velho conhecido, agora importante homem de negócios e estancieiro.


Quero trabalhar com os textos que eles escreveram, ou foram escritos sobre eles, sobre viagem, especialmente Patagônia e Argentina, dentro da estética da escrita sampler que estou desenvolvendo.
A viagem aqui é geográfica, é narrativa, mas é também um ato simbólico da própria escrita.
No caso da escrita sampler, isso vai um pouco mais longe: a viagem, a escrita como viagem e a viagem como escrita (paroxismo da narração, escrita do corpo, se quisermos ir por aí), sempre viagens refeitas, sampleadas das viagens mitológicas, aventuras referenciais, narrativas fundadoras.
Chatwin rastreando e sampleando os rastros do Wild Bunch, Pratt ficcionalizando a própria trajetória e sampleando, entremeando, contextualizando as aventuras de Corto nos momentos históricos do começo do século xx.
Pensei um fazer um texto bem despretencioso, curto, uma espécie de sobrevôo (com alguns mergulhos) pela Argentina e Patagônia com esses viajantes.
Como diz Renzi, que mais se pode narrar senão viagens ou crimes?

Saludos,
M.

1 Comments:

Blogger kaspar said...

juvex plusoft, labaredas sobre a terrinha, e só agora vejo que vc é o invasor, não é?, cheio de comments viróticos se espalhando.
vais me visitar lá em bs.as.

23/8/05 18:23  

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