sábado

The Buenos Aires Sessions Vol.1: Santiago y El Ruiseñor



El Café Bar Ruiseñor. Andando pelas Las Heras, a caminho do caminho, esbarramos nos anos 50. A sensação é a de que entramos no túnel do tempo, realmente. Impressão de que nada mudou, ninguém mudou (sequer de roupa ou cabelo) nos últims 50 anos (e talvez mais, talvez a década seja a de 40). O garçom, viejito (siempre los encuentros com los viejos “clasicos”), usa um paletó de vendedor de amendoim de circo (ou de recepcionista de hotel antigo). Entramos para um café e un cigarrillo. A luz, ainda que deixe o lugar claro, dá a impressão de ter um filtro temporal e cria um ambiente chiaroscuro (como os desenhos de Pratt quando coloridos) que está em suspensão espaço-temporal. Miró vê tudo com olhos em sépia. Ao fundo, na parede, um quadro antigo com o escudo apagado do Independiente (o maior ganhador da Libertadores, dizem sempre).




Santiago, o garçom, fala de forma incompreensível (a princípio). É preciso acostumar-se com a música. Está no bar há pouco tempo, ficar em casa corrói o espírito, ele diz. A voz parece sair de uma caixinha perdida em algum canto esquecido da vida. Hay un tartamudeo propio del lenguage argentino que me llena de uma extraña exaltación. Un ritmo da, do, da, da, interno a las palabras, diz Gombrowicz no “Diario argentino”, escreve Piglia nas suas “Anotações sobre Macedonio” (e depois não consegue mais encontrar a nota. Yo tampoco). Uma letra contra a outra, diz Gombrowiz, escreve Piglia, pedregulhos numa lata. A lata de Santiago parece estar revestida por cortiça, no fundo do mar, transmitida por um barbante de um “telefone sem fio”. Indagamos sobre El Ruiseñor, e ele diz que es un bar centenario, que a filha do dono, persona muy buena, está na Espanha, e que o movimento não é mais como antes (o tom sempre o mesmo, lleno de melancolia). Qué hacer?, diz. Tento gravar a experiência de ouvi-lo falar, mas as pilhas não têm mais força (esquecer para lembrar — a gravação rouba a alma, dizem os índios).
Saímos. Miró esquece algo e volta. Aparentemente, Santiago não o reconhece. Voltaremos ainda duas vezes, mas não é possível saber se somos, ou não, reconhecidos.
A caixa se abre no fundo do mar e solta bolhas.