quinta-feira

The Buenos Aires Sessions Vol. 1: el humanista Israel Levy

Eu e K. entramos numa pequena loja de bolsas e mochilas. Nas vitrines, vários recortes de jornais e revistas e outros papéis. A loja está fechando. Um senhor (un viejo, otro) que parece ser o dono pergunta sorrindo se queremos ajuda. Respondo que não é necessário, volvemos mañana.
Ele me olha (tenho a sensação de ser lido) e pergunta de onde somos.
Com a resposta, os olhos brilham de uma forma e ele abre um sorriso de esfuziante prazer. Adora o Brasil, los brasileros, la musica brota, la arte brota em Brasil, diz. Tom, Caetano, Milton, Chico, João Gilberto, como no escuchar a Elis Regina?, maravillosa. Pede que fiquemos, quer conversar e nos mostrar algo. Miró fuma um a dez passos, na rua.
Estamos completamente surpresos (e felizes). Perguntamos se não quer se juntar a nós, estamos indo ao El Ruiseñor, aqui ao lado. Tengo mi grupo de trabajo ahorita.


el humanista, por miró/pauperia

Entra uma cliente. Atende a mulher com a filha e escapa inúmeras vezes para nos mostrar os recortes colados nas vitrines e para seguir a conversa. Grandes escritores también. Tengo acá “Memórias do cárcere”, que escritor es Graciliano Ramos. E Machado, Guimarães, Vinícius. Começa a falar de poesia, o poder revolucionário das palavras. Nos vidros, Gabriela Mistral, Drummond, Neruda, Pessoa. E recortes sobre resistência anti-opressão no continente, e na Palestina. A cliente se vai, sorrindo com nossa conversa (será que percebe o poder desse encontro metafísico ou é, para ela, apenas mais um exotismo banal entre un viejo simpatico e tres turistas?).

Ele quer falar sobre seu grupo de trabajo. Vamos ao balcão e ele nos mostra um abaixo-assinado contra o muro que Israel contrói para isolar os palestinos. Me llamo Israel Levy, para que usteds veán que lo que me importa es la humanidad, diz. Ha leído en algún hogar una frase que mi gustó mucho: Un pueblo que oprime otro pueblo no puede ser un pueblo libre. Há duas assinaturas de brasileiros. Sharon es un criminal!, diz, enquanto mostra o material do grupo de trabajo iniciado no Fórum de Porto Alegre. Assinamos.


Es la essencia de la humanidad, la solidariedad, diz Israel (um irmão de Lévinas vendendo mochilas e distribuindo afeto e bondade ao sul do tempo). Enquanto nos despedimos, tentando expressar nossa honra em conhecê-lo, un honor para nosotros, gratidão pelo momento mágico (e que as palavras não serão suficientes para recordar), percebo seus olhos cheios. Um abraço forte em cada um. Já na rua, vejo que esqueci a sacola de livros. Volto, pego os livros, ele me olha, as lágrimas descem pelo rosto jovial del maravilloso viejo Israel. Me emocionarán muchíssimo usteds, chicos, e me dá otro abrazo.
Consigo gravar um trecho das palavras de Israel, da nossa conversa. Tom e freqüência. Um fragmento perdido da bondade e da solidariedade humana.

1 Comments:

Blogger kaspar said...

tati, seu tio avô, primo-irmão do lévinas, realmente foi uma experiência metafísica.
vou voltar lá pra vê-lo de novo.
e quando der, visita o kaspar.house, que é o blog da alucinação diária (quem diria, hein?, eu nessa história de blogs/orkut).
mas vc já não tem um blog, eu vi uns textinhos num espaço rosa cheio de flores (rá!).

12/8/05 14:01  

Postar um comentário

<< Home