domingo

The Buenos Aires Sessions Vol. 1: autonauta

Dia 1: viernes
Táxi de madrugada, chego com Miró ao aeroporto: check-in rápido, café com leite e
pães de queijo na espera. Encontramos K. logo depois. Uma viagem que seria solitária, uma viagem que seria outra viagem, e ainda outra (como o texto) anterior, transformada em uma ação-experiência entre amigos.
Os viajantes somos nós.
Na janela, eu. K. no corredor. Sorte grande: ninguém na poltrona (assento é mais adequado) do meio. Miró algumas filas atrás.
Primeiras conversas sobre “Respiração artificial” com K.: Kafka, Borges e as teorias de Renzi e Tardewski. Miró terminando o “Desonra” (tradução estranha para “Disgrace”, comentamos mais cedo).

Na conexão inesperada em São Paulo, melhor, em San Pablo, falamos os três de Coetzee. A impressionante disciplina do osso, uma narrativa que não cede nunca. A impaciência surge entre a objetividade cortante — ser impaciente, escrever impacientemente, não significa descuidar de cada acorde, de cada vírgula do encadeamento da narrativa.



No avião Gilberto Gil, em má forma, segue escalpelando as dreadlocks de Robert Marley. Depois, sucessivas informações despejadas de forma incompreensível pelo comandante e seus comandados: o espanhol é uma afronta e o inglês, um pastiche do alemão.
Um aviso: as autoridades sanitárias argentinas determinam a esterilização dos passageiros e da aeronave, e, portanto, seremos (des)insetizados (!).
O inseticida é natural, afirma a aeromoça. Ficamos perplexos, e somos realmente submetidos ao contato, bombardeados efetivamente pelo aerosol purificador (natural, dizem, mas fedorento e agressivo como os “artificiais” — índice: a natureza é olorosa e violenta!).
Ouvindo “Speachless”(do K&D Sessions, que será a trilha da viagem), janela aberta: a bandeira argentina no horizonte — céu azul sobre nuvem branca (o nome do quadro).
De Copacabana a Ezeiza, salto no espaço-tempo. Na autopista para o centro, sensação estranha de entrar em outra dimensão, como um percurso intestino interplanetário em direção a outro estômago-urbe, autonauta da cosmopista levado pelo táxi.

1 Comments:

Blogger kaspar said...

pois, então...
e na volta não rola nada.
bj.

15/8/05 00:02  

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