segunda-feira

The Buenos Aires Sessions Vol.1: libreria anticuaria



Uma banca de livros antigos em la feria.
Pergunto pela edição de Ferdydurke traduzida pelo coletivo de abnegados capitaneado por Virgilio Piñera (publicada em 47, foi a primeira tradução do livro para outra língua, feita sem dicionário, direto do polonês, com Gombrowicz mal falando castellano trabalhando em conjunto com o grupo). El Viejo Librero diz que tem na libreria e me dá um cartão. Dentro do cartão está escrito: El libro que ud. busca se lo encuentra. La libreria La Cruz del Sur (que não conseguiremos visitar). Ele não está certo de que seja essa edição (e acabo por comprar a atual da Seix Barral que, segundo o prefácio de Sábato, preserva a tradução lendária).

Chega O Conde (que ainda não sei que é O Conde). Figura “distinta”, alta, bigode espesso de conde virado para cima, cabelos grisalhos ondulados, óculos impossíveis (enormes, pretos, quadradões e com as lentes sujas), uma capa por cima do terno.
O Conde diz: Bon soirée, grand maître! El Viejo Librero levanta os olhos de si mesmo e parece ser percorrido por uma fagulha, mudando completamente de tom: de uma lentidão modorrenta de fim de domingo a um ânimo jovial e alegre: Hola, maestro!, responde, e começam a conversar em francês.

O Conde fala de uma proposta que recebeu para comprar os cinco volumes do “Cosmos” de Humboldt. Passam ao castellano. O Conde diz que parece um bom negócio, El Viejo Librero concorda (tenho a sensação que uma outra negociação, futura, se arma sutil entre os dois). Segue uma conversa curta, de tom aristocrático — um livro que toma forma e vida ao meu lado. Como inicia, acaba, um raio do tempo no meio do nada.
Adieu, grand maître! Adiós, Conde! Adiós, maestro!

(E não é mais necessário comprar, ou falar, de Gombrowicz ou Ferdydurke — ele acaba de “acontecer”)